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Quase um anjo
Certas
manhãs, acordo tentando organizar todos os meus sonhos, há muito, arquivados no
coração. Sempre ‘uso’ meu irmão mais novo como ouvinte. É engraçado, mas ele
nunca disse que não conseguirei ou que sou incapaz. Ao contrário, ele me
estimula tanto que desanimo, pois parece que ele sente mais vontade de me
incentivar a fazer algo do que, realmente, acreditar que eu possa realizar meus
desejos.
Sinto que
deveria agradecer todos os dias da minha vida por ter quase um anjo ao meu lado.
Ele não tem asas nem auréola, mas é como se possuísse uma seta para direcionar
meus caminhos. Às vezes penso: ou minhas fraquezas estão expostas demais ou meu
irmão as conhece melhor que eu. Ao mais leve desestímulo, posso me sentir
derrotada e desistir de tudo. O que ele parece ainda não ter percebido é que
estímulo demais faz parecer que ele quer me deslocar da zona de conforto.
Esse
quase anjo me mostra o que fazer, ao final diz: “se você não fizer, nunca mais
me fale sobre isso”. E como eu quase nunca faço, ele sempre finaliza da mesma
forma: “se você não fizer, nunca mais me fale sobre isso”. É como se a
negociação não funcionasse, é como se ele soubesse que sempre volto à estaca
zero ou menos zero. Estou sempre precisando recomeçar ao invés de dar
prosseguimento em linha reta. Eu tenho um quase anjo. Um quase anjo que escuta
as minhas orações, mas não pode atendê-las, pois isso não é tarefa dos anjos.
Eles podem até ser um elo entre Deus e as pessoas, mas jamais serão
realizadores de desejos... No entanto, tenho sorte, muita sorte!
Imagem: Google
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