Alguém tem que ceder? Que não seja eu. Em uma das minhas designações encontrei uma mulher com os seus quarenta e poucos anos (o que já deveria ter-lhe atribuído certa experiência de vida) que me disse que detesta dar aulas. Eu disse: Então não dê! Depois ela tentou me convencer que andar pela cidade à noite é mais seguro do que andar pela cidade durante o dia. Eu disse: Não concordo, isso é loucura! Ela disse que, por fazer o curso de Direito, tinha prioridade em relação às vagas para professor de Português. Eu disse: Ou eu fiz o curso errado ou você está delirando. Por sorte, a inspetora de ensino esclareceu que eu não fiz o curso errado e que a mulher estava delirando.

Juro que evito ao máximo ter contato com esse tipo de gente (não por preconceito, mas por prevenção das minhas reações), mas parece que sentem meu cheiro no ar. Pensou em falar asneira? Pronto, pensou em Gabriela. Ninguém me convida para ver o lançamento do Martin Scorsese ninguém me indica um livro interessante, ninguém me mostra uma poesia nova, ninguém chega com uma aliança e me pede em casamento (também aquelas de lata não quero). Mas quando querem falar asneiras, eu sou a primeira a enxergarem pela frente e, o que é pior, discordam de todas as minhas tentativas de interlocução.

Toda vez que eu escrevo essas histórias da minha ‘vidinha sem sal’ parece que sou louca, e não vou nem me defender dizendo que não sou. Negar a loucura é o argumento de todos os loucos. A verdade é que todos os loucos parecem enxergar um pedestal em mim, então sou uma espécie de diva dos loucos. Ou não, talvez eu seja apenas uma espécie de amplificador para que eles possam falar, levando em consideração que só eu devo escutá-los. Tenho que comprar um manual de autoajuda: “Como afastar pessoas insanas”, talvez funcione, porque oração não está adiantando...

Imagem: Google (Charge Gilmar)

Os últimos meses têm sido uma cruz a carregar. Dizem que cada um tem a sua. E se eu não tivesse a minha cruz, seria apenas um Cirineu e, não, o protagonista da história. Pelo menos reza a Bíblia que Cirineu ajudou Jesus a carregar a cruz. Em alguns filmes, essa cena é relatada com certa relutância. Então, eu não quero ser Cirineu. Também não quero ser Jesus, pois, como diria Raul Seixas “... Deus me livre, eu tenho medo, Morrer dependurado numa cruz...” Exagerei um pouco para dizer que os últimos dias foram chatos ‘pá caralho’. Aliás, redundante... muito redundante dizê-lo.

Detesto quando as pessoas confundem minha forma de pensar com pessimismo. Às vezes, tenho a impressão de que briguei a vida toda para provar que não sou. Eu sei que não adianta, algumas pessoas me taxam de pessimista. Mas se pudessem ler a minha mente, veriam que chego a ter ilusões hipotéticas e improváveis, principalmente, quando ouço alguma música de que gosto. No fim, tenho que descer das nuvens e colocar os pés em solo firme. Não quero ‘a essa altura do campeonato’ ser classificada, qualificada ou rotulada. Portanto, que pensem, mas não me digam. Pois, se disserem, haverá réplica. Não vou abrir mão da minha opinião. Não quero perder a minha personalidade. Eu não acredito que vendendo algodões doces na praça eu possa ficar rica. Isso é ser pessimista? Então, que seja!

É verdade, esse texto lembra um adolescente ‘reclamão’. Mas, afinal, para que servem os serviços de ‘reclame aqui’? Eu tenho que reclamar em algum lugar. Há algum tempo, certa campanha publicitária bradava que “brasileiro não desiste nunca”. Não sei quanto aos outros, mas eu, Gabriela, brasileira, desisto. A partir de amanhã vou começar a ler “O Segredo”, vou colar várias metas nos espelhos da casa, nas paredes, na tela do computador e todo mundo vai me achar fantástica. Enquanto isso, eu pego minha cabeça, jogo no vaso sanitário e dou descarga. Depois, vou vender algodões doces na praça e investir na bolsa de valores. “Vai que...”

(Não sei por qual motivo aparecem essas tarjas brancas, acredito que seja algum erro de configuração. Que raiva disso!)

Imagem: Google