Minha admiração pelo mágico
universo dos super-heróis começou tarde, mas 'ainda bem' que começou. Tudo corria, calmamente, em minha vida quando uma professora universitária (já falecida) que
costumava passar todos os alunos com a nota máxima pediu para que a turma se
dividisse em grupos para analisar, cada grupo, um capítulo de um determinado
livro. Dessa forma, toda a turma trabalharia o livro com as apresentações. Li
minha parte do capítulo, fiz todos os slides e programei as falas de cada
membro do meu grupo. Mas uma aluna, membro do meu grupo, me cobrou R$ 0,10 (dez
centavos) que faltavam na divisão das fotocópias do capítulo. Nada contra pagar
os R$ 0,10, mas naquela noite não dormi meditando sobre o ocorrido. Na manhã
seguinte, liguei o computador e joguei os slides na lixeira virtual, juntamente
com as divisões das falas dos membros do grupo. À noite, na faculdade, não só
devolvi as páginas do capítulo que estavam comigo, como também joguei a moeda
de dez centavos no chão. A partir daquele momento, percebi que havia me
transformado em uma vilã, percebi que meu lado altruísta de fazer tudo pelo
grupo sem exigir nada em troca se quer tinha sido notado. Eu havia me
transformado em uma vilã, por um motivo simples, que seja! Daí, resolvi
procurar a benevolente professora, que me presenteou com um capítulo brilhante
de Umberto Eco “O mito do super-homem”, texto que jamais esquecerei, leria mil
vezes se preciso fosse. Para minha surpresa, pessoas advindas de outros grupos
por motivos familiares ao meu começaram a pedir para fazer parte do meu grupo.
Formávamos, assim, um novo grupo: os vilões letrados.
O assunto do
texto “O mito do super-homem” é tarefa para outro post, mas foi, com certeza, o
desenrolar mais forte de minha composição vilã, meu lado mau para pequenas
ações. Estou longe de ser a ‘mulher gato’ ou ‘Carmem Sandiego’ até porque não
tenho nenhuma vocação para sedutora. Posso, porém, afirmar que vilões são seres
que tiveram a sua porção boa afetada por outros seres. Ou seja, o lado mau de
um vilão é despertado pelo desencadeamento da ordem natural de sua vida. Um
simples fato pode mudar tudo. É claro que estou falando de maneira fictícia,
mas o parágrafo introdutório é verdadeiro. Embora, sirva apenas para ilustrar
que todo vilão já quis ser ou foi bom um dia. Sendo assim, decidi ir a fundo ao
mundo dos heróis e por que não dos vilões? A troco de nada, decidi traduzir a
ficção para a realidade. Quero dar exemplos reais! E nada melhor do que começar
por mim mesma.
Os heróis me
fascinam, mas os vilões são muito mais complexos, são seres carregados por uma
energia muito maior do que a energia dos super-heróis. Entretanto, toda energia
mal canalizada acaba sendo destrutiva para os outros ou (e) para si mesmo. Os
vilões são, portanto, transformados pela má administração de seus próprios
sentimentos e não existem dúvidas sobre isso.
Os próximos posts da série “... Meus heróis morreram de
overdose. Meus inimigos estão no poder...” retratarão modelos de heróis, anti-heróis e
vilões conhecidos e interpretados de formas mil em diversas partes do mundo. É
a nova coluna do blog “Palavra em Debate”, que “não é ‘Coca Cola’, mas é isso
aí”.
Imagem: Google