Repetições
Ligo o rádio e ouço as mesmas músicas (sim, ainda ouço rádio). Gosto dos comentários sem sentido dos locutores, das coisas inúteis que dizem, como se nos contassem a mais nova descoberta da face da Terra. Gosto quando dizem frases de para-choques de caminhões, como se fossem a mais profunda poesia de Drummond. Não gosto quando interrompem a música bem no meio, talvez porque estejam enjoados de tocá-las.
Parece que ouvir a programação das rádios é como a própria vida, tantas vezes repetitiva, tantas vezes as mesmas músicas, as mesmas frases, as mesmas pessoas. As propagandas seriam aqueles intervalos, que na vida não são intervalos e, sim, momentos e tempo que desperdiçamos. O interessante é que os intervalos sempre duram mais que a própria programação. Momentos desperdiçados duram mais que a própria vida.
Atos não passam de meras repetições, não passam de meros esboços do que foi ou do que vai ser. Ultrapassados como a programação das rádios... Mas ainda existentes.
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