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Sem decepção!
Decidi meditar
sobre a palavra decepção. Tenho um motivo para tal, pensei que estava decepcionada
com alguém. No entanto, a razão me trouxe a certeza de que não tenho esse
direito. Não sou muito boa com as palavras quando estou triste em relação a
algo (tristeza tenho o direito absoluto de sentir). Por isso, não sei se
conseguirei expressar o que, de fato, pretendo. Seguem abaixo três fatores
sobre eu não ter o direito de me decepcionar.
Em primeiro
lugar, é preciso refletir: por que me sinto no direito de me sentir
decepcionada com alguém? Percebi que eu só me senti decepcionada porque eu
mesma (a única culpada) construí expectativas em cima de uma outra pessoa.
Quando construí tais expectativas, talvez eu tenha criado uma pessoa que nunca
existiu, transformei alguém comum em alguém especial. Erro grave! Não estou aqui
afirmando que essa pessoa seja ruim, mas é uma pessoa normal, como outra
qualquer... Projetar uma imagem diversa àquela que a pessoa, verdadeiramente,
possui é o primeiro grande passo para um futuro decepcionante.
Num segundo
momento, posso afirmar, com absoluta certeza, que, de uma forma ou de outra,
alguém já se sentiu no direito de se decepcionar comigo. Por qual motivo?
Certamente por ter projetado em mim expectativas inexistentes, imaginárias,
portanto! De quem é a culpa? Minha? Não! Não sou culpada por alguém construir
uma imagem sobre mim. É até estranho falar em culpa, sendo que ninguém está
sendo condenado. Mas, como em tudo na vida, é preciso culpar algo, que a culpa
seja de quem criou expectativas. A situação aqui explicitada é inversa à situação
do parágrafo anterior. Ou seja, em algum momento da vida, isso poderá ocorrer
com qualquer pessoa.
O terceiro
fator que me leva a crer que não tenho o direito de me decepcionar é a questão
da auto vitimização. Quando me coloco na posição de vítima, certamente pensarei
que todas as pessoas são causadoras de um sofrimento que é meu, exclusivamente
meu. Sendo assim, percebi que não devo me sentir uma vítima, simplesmente
porque me sinto triste pelo fato de as coisas não terem saído de acordo com a
minha vontade. A auto vitimização não vai me fazer progredir.
O tempo e a
vida me ensinaram a refletir sobre isso. Acredito que eu nunca tinha conseguido
pensar de forma tão ampla sobre até aonde vai o meu direito. É claro que ter
essa lucidez não me imuniza de sofrer, mas cicatriza melhor as feridas. Mas...
o lado bom de tudo isso é que qualquer das minhas frustrações jamais me
impedirão de acreditar em novas pessoas, porque eu sei que as pessoas são
diferentes umas das outras. Não estou imunizada, ninguém está imunizado de mim.
E eu não vou desconfiar de todos, ao contrário, confiarei com a ideia de
enxergar a realidade, não apenas o que eu quero enxergar.