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Sentir culpa incomoda e massacra
Um
dos piores sentimentos é o sentimento de culpa. Existem diversas formas de
senti-lo, e todas são cruéis. Não sinto pena de quem sente culpa, pois algo
ruim anteriormente cometeu. Eu poderia até sentir pena, se não fosse eu também
mais uma a se sentir culpada. E culpada por quê? Por tantos derradeiros e
dolorosos motivos que às vezes as palavras não são capazes de informar. Outras
vezes, a alma não consegue transpor. Feliz aquele que não se sente culpado por
nada. Existe? Sim. Dizem que coração dos outros é terra que ninguém pisa, mas
ouso pisar: existem aqueles que não sentem culpa por nada, nunca nada. Privilegiados!
Mesmo culpados, não sentem culpa.
Culpa
incomoda e massacra. Na verdade, não a culpa em si, ou quando alguém te culpa.
O massacre vem de sentir culpa, daí o derradeiro soco no estômago da alma.
Tantas palavras de consolo podem ser ditas, tantos abraços, tantos apertos de
mão, e nada adiantará, pois aquele que se sente culpado sabe que qualquer
consolo não é capaz de apagar a causa desse sentir cruel. Sinto-me, em certos
momentos, preenchida por saber que não estou só na imensidão da angústia devastadora
que é sentir culpa. Não, não estou só, sempre me sinto acompanhada por aqueles
que, assim como eu, estão atormentados, tristes, devastados... Devastados por
algo capaz de dominar o pensamento e que nenhum confessionário será capaz de
curar. Sentir culpa é ter uma lacuna que jamais será preenchida.
Motivos?
Um ou vários, são eles os geradores, mas não são os culpados. Quem são os
culpados além daquele que errou? Errei, sendo eu a única culpada. Culpada e
condenada. Por quem? Por mim mesma. Há, afinal, algum acusador pior do que si
mesmo? A justiça, o mundo, a vida pode absolver, mas se o coração diz não, nada
será como antes. E quando vem a lembrança do antes, parece que a vida era
diferente e o mundo de outra cor, mas a verdade é que mesmo com tudo diferente
algo impulsionou ao erro e errar, por mais clichê que possa parecer, é humano
e, sem clichê, ao mesmo tempo, desumano.
Imagem: Google