“De qualquer maneira, podemos (devemos)
recordar aquilo que os romanos - o primeiro povo a encarar seriamente
a cultura, à nossa maneira - pensavam dever ser uma pessoa culta: alguém
que soubesse como escolher sua companhia entre homens, entre coisas e entre
pensamentos, tanto no presente como no passado.”
ARENDT, Hannah. Entre o passado e futuro.
São Paulo. Editora Perspectiva, [1946] 2009. p.281
A palavra “cultura” vem
do latim “colere” que nada mais é do que “cultivar”. Sendo assim, não
concordo muito com alguns projetos, festivais, shows (entre outros) que afirmam
levar cultura para as pessoas. Sempre
vi a cultura como aquilo que uma pessoa cultiva. Por exemplo, se eu gosto de
funk (é só um exemplo mesmo) não adianta tentar me aproximar de música
clássica, pois o máximo que ocorrerá é o fato de eu conhecer uma nova cultura,
sendo que não é isso que irei cultivar no meu dia a dia. Posso até provar
espinafre, mas vou plantar couve e colher couve. E, mesmo que eu comece a
cultivar espinafre, é apenas uma nova cultura, não a única.Tudo
o que um indivíduo gosta é cultura: a sua própria cultura. O fato de eleger uma
cultura como melhor e pior é outra questão. Questão essa fundamentada em
julgamentos. Se eu digo que funk é ruim, me sinto no direito de julgar
determinado ciclo social diferente do meu como inferior. Ou seja, julgo e
critico aquilo que o outro cultiva, mas a verdade é que não há uma regra fixa
para classificar algo como bom ou ruim. Entramos aí em outro quesito
interessante: o comportamento.Comportamento
é uma questão bem mais complexa. Mais uma vez voltando a exemplificar, se eu
ouço funk, não significa que vou me comportar como um dançarino ou fã de funk.
Certamente, me adaptarei aos ditames sociais do núcleo no qual estou inserida.
Posso estar ou gostar de uma determinada cultura, mas não necessariamente adotar
os comportamentos dos membros de tal cultura.Decidi
entrar neste quesito cultural de forma rápida e breve, pois considerei singular
a apresentação de André Rieu no “Domingão do Faustão” dia 27/05/12 quando o
mesmo, juntamente aos seus músicos e cantores, apresentaram uma versão
impecável da insuportável musiquinha “Ai, se eu te pego!”. O que o grande
músico pensou? Em terras tupiniquins, agradarei aos descendentes indígenas com
uma cultura de massa, algo que possa atingir a qualquer um. Isso significa que
Rieu goste ou faça parte dessa cultura? Claro que não! Definitivamente não é
isso que ele planta, mas os aplausos que ele colhe fazem parte da bem sucedida tentativa
de adotar um determinado comportamento apenas para atingir uma cultura diversa
à sua.
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