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Concorrência
As instituições escolares particulares agora inventaram uma
nova: ‘vaga para monitores’. Tenho que ter o diploma universitário para
concorrer a uma vaga de trinta (30) horas semanais e para ganhar seiscentos e
vinte e dois reais (R$622,00), ou seja, um salário mínimo. Dia desses, fui
concorrer a uma dessas vagas, nem sei por que o fiz, pois ganho mil e trezentos
(R$1.300,00) para trabalhar vinte e quatro (24) horas semanais. Não tenho o
menor problema em falar valores, principalmente quando quero falar mal dessas
concorrências. Voltando ao assunto, no dia em que fui concorrer a essa vaga,
fiz uma prova, depois de uma semana a psicóloga me ligou para participar de uma
dinâmica. Chegando lá, conheci pessoas que tinham mestrado e estavam disputando
a vaga como urubus em cima da carniça, algo que não faz o meu perfil. Tive
vontade de ir embora, primeiro porque eu já estava desanimada da vaga e segundo
porque eu detesto disputar algo como se fosse a conquista da minha vida, sendo
que não fazia muita diferença para mim. Às vezes, fico imaginando o quê os
psicólogos avaliam nessas dinâmicas, porque, sempre que eu participo delas, ou não
faço o perfil ou nem me dão resposta depois. Não acho que em um ‘joguinho’
dinâmico possam avaliar a profissional que eu sou dentro de uma empresa, meu
caráter e como eu interajo com meus alunos. Enfim... como sempre, não me deram
resposta sobre a vaga. Pode parecer desdém para quem não me conhece, mas achei
foi bom.
Outro dia, participei de uma prova (que mais parecia um vestibular)
para monitor em um colégio superfamoso por aqui. Uma semana depois, me convidaram
para conversar com o coordenador de Literatura do colégio. Chegando lá, ele me
deu dois textos muito bem escritos de alunos e pediu para que eu os avaliasse e,
de acordo com a minha avaliação, desse a nota. Sendo assim, dei o meu parecer
sobre o texto e minha nota. Ele me disse que concordava com tudo o que eu havia
dito sobre o texto, mas que achava que eu tinha sido benevolente demais com a
nota. Se ele concordava com o que eu havia dito sobre o texto, deveria ter
concordado com a nota, pois ela estava de acordo com o bom texto que eu havia
lido. Não preciso nem dizer que não fiquei com a vaga, não é mesmo? (risos)
Pelo menos dessa vez não tinha uma psicóloga com ‘cara de cu’ avaliando minha
postura, minhas roupas e a forma como eu converso. Aliás, em um colégio
particular que trabalhei como estagiária, a psicóloga cortou o acento da
palavra ‘diário’ do meu ‘diário de bordo’. Será que ela acha que ‘diário’ não
tem acento? Vai saber... (risos)
Devo dizer que não gosto de estudar, não condeno os alunos.
Gosto de ler e, se eu pudesse, passaria minha vida lendo Literatura. Odeio ser
avaliada ou testada. Nunca gostei da escola, sou péssima em Matemática, Química
e Física. Agora, se eu quiser ganhar um pouco mais, tenho que encarar essa ‘onda’
de concursos públicos. Mas, devo afirmar, sou uma péssima concurseira. Ontem
mesmo, dormi ouvindo em Mp3 uma matéria muito chata do concurso da Polícia
Federal, já até sei que não vou passar, pois ou eu estou sempre com preguiça
para ler as matérias ou estou animada e durmo quando começo a ler. O que vai
acontecer é eu gastar cento e vinte e cinco reais (R$125,00) da inscrição, uma
das mais caras, por sinal. Mas a esperança é a última que morre e a
concorrência é até pouca, pois dos milhares que fazem um concurso, poucos sabem
que ‘diário’ tem acento agudo no A. (risos)
Imagem: GettyImage (Image Bank)
Imagem: GettyImage (Image Bank)