Como acordar o aluno?
(Carlos Drummond de Andrade)
Todos, algum dia, estivemos na posição de alunos, mas poucos estarão, algum dia, na posição de professores. Sinto-me privilegiada por, muitas vezes, ser considerada a detentora da verdade e dona da razão quando estou de costas para o quadro negro e diante de olhares curiosos para conhecerem aquilo que já me causa fadiga. Outras vezes, os olhares são vencidos pelo cansaço e adormecem.
O horário noturno é injusto, não para o professor, que é um ser surreal e não tem cansaço, é o que demonstram alguns alunos quando metralham o professor com perguntas embaralhadas em mais de uma voz. Mas injusto para o aluno que vai aprender depois de um dia exaustivo de trabalhos, sejam eles quais forem. O horário vespertino causa aquela preguiça por ser após o almoço, mas não para o professor que é um ser estranho e nem deve sentir fome. Já o matutino, desperta o aluno do sono profundo da madrugada, que é uma injustiça ter fim. Mas todos os sonhos têm fim.
Não é justo despertar os alunos que dormem, lá estão eles de olhos fechados para o conhecimento, mas bem abertos para o sonho. O que será mais importante? Sonhar? Aprender? Os sonhos desmancham a pesada realidade fincada nas costas. Aprender (conhecer) torna-nos mais acordados para a vida, mais repelentes a injustiças mil. Mas como acordar o aluno que dorme? Ele sonha e eu de olhos bem abertos. Estamos em mundos opostos, é preciso afirmar.