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Hora marcada

Posted by Blogueira on 20:47 in ,


A palavra ‘Deus’ não significa um conceito inteligível de forma alguma, mas refere-se, ao contrário, a um ‘algo’ incoerente que desafia nossa compreensão." (George H. Smith)
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Passei a vida toda conversando com Deus. Às vezes, assuntos banais. Outras vezes, questões que envolviam toda a humanidade. Passava horas me olhando no espelho e imaginando que desta forma estava falando com Deus. Era no chuveiro. Na escada da escola. Na solidão do quarto escuro. Em meio a um monte de gente. Eu vivia falando com Deus.

Com o tempo, e sem que eu percebesse, fui perdendo esse hábito. Não sei ao certo o que me fez parar de falar com Deus o tempo todo. Mas não o deixei completamente, não fiquei de mal de Deus, agora tenho horários para falar com Ele. Nossa relação ficou mais formal, é porque não era, de fato, um diálogo. Era um monólogo todo meu. Deus era uma invenção minha, porque, às vezes, eu sentia dor na boca de tanto mantê-la fechada. Com o passar do tempo, percebi que, infelizmente, o diálogo com pessoas reais é obrigatório e comecei a falar mais e minha boca parou de doer. Eu me afastei do Deus amigo imaginário que não respondia e que eu havia inventado. Parei de procurar respostas em frases que ouvia aqui e ali. Parei de procurar ler um sinal de Deus num para choque de caminhão. Num pedaço de um capítulo da Bíblia.

Comecei a imaginar que Deus estava fugindo de mim, depois eu percebi que isso seria improvável, pois Ele não poderia fugir se já estava distante. Lembro que uma vez briguei com Deus, mas nem assim Ele se sentiu ofendido, não me castigou nem nada, continuava lá na parede a sua foto sorrindo para mim. Depois eu joguei aquela foto linda de Deus no lixo, eu percebi que era apenas uma ilustração de um livro que eu havia rasgado a página. Não era Deus de verdade e aquilo me frustrou muito quando eu descobri. Sinto falta da foto.

Toda vez que eu chorava, esperava que Deus passasse a mão na minha cabeça e me desse colo, mas Ele nunca apareceu. Joguei tantas palavras ao vento, mas ainda acredito que não estava falando com um Deus de mentira. Estava falando com um Deus inventado que eu fui desinventando e, agora, nossas conversas, ou melhor, meus monólogos, têm hora marcada. Ficou mais fácil assim, porque eu já nem choro mais, assim não fico o tempo todo esperando que Ele passe a mão na minha cabeça ou me carregue no colo...


Imagem: Google


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A banalidade da vida

Posted by Blogueira on 12:22 in ,


A cada dia que passa, vejo o quanto as pessoas têm banalizado a vida. Já me dói observar o quanto têm se banalizado as situações. Será que somos (enquanto pessoas) todos iguais? Nego-me a crer nessa dolorosa realidade.
Dia desses, em um desses abrigos de ônibus, havia um homem em situação de rua deitado num papelão. Era um dia de chuva e, sem dúvida, o mendigo estava tentando se proteger da chuva enquanto as outras pessoas apenas esperavam seus respectivos ônibus. Enquanto isso, as pessoas fingiam ou pareciam fingir que não viam aquele mendigo deitado, pisavam no papelão do pobre homem molhando-o e enchendo-o de barro. Parecia mesmo não existir ninguém deitado ali.
Cansa os olhos e a alma ver situações como essa, pois as pessoas acreditam que, pelo fato de o abrigo de ônibus ser um local para esperar ônibus, não deve ter ninguém deitado ali. Esquecem-se, no entanto, de assimilar que o homem não tem lugar para dormir e que a noite fria e a chuva não perdoam e não entendem. Mas o que muito incomoda é o fato de não haver humanidade nas pessoas, sendo, ainda assim, humanos.

Imagem: Google

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As tatuagens da vida

Posted by Blogueira on 11:15 in , ,

Começa a surgir uma ‘nova onda’ de tatuados. Pessoas, que leram livros e gostaram de algumas passagens, tatuam essas mensagens no corpo, ou até mesmo desenham quadrinhos, tirinhas e caricatura de autores diversos.

Poucos anos atrás, li, obrigatoriamente, “Grande Sertão Veredas” (Guimarães Rosa) na faculdade. Fiquei extasiada com os inúmeros excertos do livro. É uma forte literatura e um grande sertão interior (em nós) a se desvendar. Comentei com algumas pessoas que queria tatuar um pequeno trecho do texto que diz assim: “Carece de ter coragem...” Muitos me incentivaram, mas o que poucos sabem é que eu jamais teria coragem de fazer uma tatuagem. No entanto, uma pessoa muitíssimo íntima minha, sabendo que eu jamais teria coragem para fazê-lo, me sugeriu: ‘Por que você não tatua “Nonada” nas costas?’ Para quem não sabe, “Nonada” é a primeira palavra escrita no livro e quer dizer “Não é nada”. Ou seja, o que este íntimo amigo me sugeriu foi que eu tatuasse que não era nada, exatamente por não ter coragem de fazer nada.

Assim que vi a galera tatuada, lembrei-me da minha vontade que nunca será concretizada. Decidi colocar o link para que os leitores deste humilde blog possam ver algumas dessas tatoos http://flavorwire.com/161484/10-awesome-indie-comics-tattoos Mas, apenas para ilustrar e deixar bem claro, eu sempre prefiro as tatuagens da vida. Que são marcas, não feitas de tinta, mas que ficam para sempre na pele e também dentro da gente.


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